Abra os olhos e escute. Não há som. É apenas o ar em movimento. Atrito suave como um assovio. O vento passa entre as folhas, copas e galhos. Caminha pelas paisagens. Assim as tintas são misturadas, fundidas. Formas coloridas biplanares sobre a tela. Paisagens de vento. Inabitadas. Pinturas. Paisagens criadas por Bruno Lins.

À primeira impressão, o termo paisagem remete ao conjunto de elementos naturais, como montanhas, rios, mares, vegetação. Mas o significado vai além. Geograficamente o termo também abrange as construções humanas – paisagens urbanas. Em ambos os casos estas composições são momentâneas. Sofrem a ação de agentes de um planeta em constante transformação. Na Arte não é diferente. Acidentes, acasos e diálogo interagem com a intenção.

Paisagem é tudo aquilo que percebemos ao redor por meio dos sentidos, sendo talvez a visão o que nos dê maior dimensão e entendimento deste entorno como um todo. Conjunto de estruturas naturais e sociais de determinado espaço e tempo definidos onde há interatividade entre os elementos naturais e as diferentes relações humanas com a natureza.

Seria o vento – força transformadora – um substantivo concreto ou abstrato?

Imagine mais um pouco. Imagine a paisagem como metáfora de vida e idealize a sua. Apenas como metáfora a compreensão é possível pois Bruno Lins mostra que construir paisagens é deixar transbordar sentimentos e assume sem medo os riscos que todo e qualquer transbordo é capaz de gerar.

Assim como surgem no pensamento, induzidas pelo sopro do vento, estas paisagens – sempre inabitadas – surgem nesta série de pintura como expressão de vivência e lembrança – inquietude da mente. Cada um tem a sua, seja pela velocidade com que o vento sopra em cada um, seja pelo percurso, transparências e névoas– elementos intimamente ligados à velocidade da pincelada, transformação.

Paisagens internas e externas. Paisagens de vento. Imagens de um sonho bom que apenas um agente em movimento torna visível e revela lugares, paisagens íntimas que cada um carrega em si. Pois é apenas nestes lugares que um ser humano reconhece o outro.

MARCELO FRAZÃO
Rio de Janeiro, Novembro de 2009